HISTÓRIA

Irmão Ademar: o primeiro fotógrafo da Quarta Colônia

O Irmão Palotino Ademar Gonçalves da Rocha, pioneiro do cinema na região da Quarta Colônia, destacou-se também pelo amor pela fotografia. Nascido em 20 de agosto de 1904, na localidade de São Geraldo (atual Pains), 5º Distrito de Santa Maria, RS, Brasil. Na infância, ganhou de seu pai um projetor fixo o que despertou um grande interesse pelo cinema, que a partir deste fato Ademar tornou-se um estudioso nessa área. Nos fundos da casa de sua família, Ademar mantinha uma oficina onde trabalhava com máquinas fotográficas, demonstrando interesse e aptidão para esta arte.

Em 1934, Ademar recebeu a designação de Irmão Palotino e mudou-se para o Patronato em Santa Maria, onde lecionou até 1948.Nesse período foi aberto o Pré-Seminário na localidade de Faxinal do Soturno (que então pertencia a Cachoeira do Sul), para onde o Irmão Ademar foi transferido.

O Irmão Ademar iniciava sua trajetória em Faxinal do Soturno, onde permaneceu durante 15 anos no Pré-Seminário São José, atuando como professor nas 25 turmas de meninos que passaram pela Instituição. Quando o local foi fechado, o Irmão Ademar começou a atuar na periferia do Município, na Vila Medianeira, onde instalou a primeira comunidade educativa para meninos. Ajudou na construção do Centro Comunitário e atuou também na ação social e pastoral da vila, visando atender as necessidades dos mais carentes.

O Centro Comunitário recebeu o seu nome, em sua homenagem, pois neste espaço Ademar ministrava cursos, dava aulas para o Mobral, sendo o primeiro catequista na vila. Além disso, tinha um programa de saúde comunitária e incentivava a união e a participação de todos na evangelização. Inclusive, ele tinha um programa de rádio chamado Caminhamos Juntos na Rádio São Roque, com o objetivo de levar informações para a região da Quarta Colônia, aos agricultores da região, além de ser um programa com conteúdo religioso e social.

O Irmão Ademar sendo um dos primeiros fotógrafos da região, também foi quem introduziu o cinema educativo e itinerante, o qual era chamado de CINEPAL (Cinema Palotino). As exibições começavam sendo projetadas desde a região de Pinhal Grande até Santa Maria, sendo realizadas nos salões paroquiais. Os filmes eram alugados nas organizações católicas da Capital do RS, necessitando, segundo ele, serem adequados conforme os princípios morais da época. No subsolo do prédio do Pré-seminário, o Irmão Ademar construiu um estúdio fotográfico, onde as pessoas tiravam fotografias para documentos e, também, solicitavam seu trabalho para casamentos, batizados, festas religiosas, missas e ocasiões em geral. Assim, inúmeros momentos importantes da comunidade de Faxinal do Soturno e região foram registrados pela câmera fotográfica do Irmão Ademar, constituindo um rico acervo com muitos negativos e fotos que foram doados a fotógrafa Carmem Marzari e ao fotógrafo Amir Trevisan, e estes posteriormente, para à Prefeitura de Faxinal do Soturno.

Apresentação do Museu e Do prédio

A implantação do Pré-Seminário São José em Faxinal do Soturno, na área central do Munícipio, na rua 7 de Setembro, número 790, deu-se no ano 1949 pelos Padres Palotinos e trouxe inúmeras contribuições para o desenvolvimento da localidade, bem como, para a formação pessoal e profissional dos que ali foram alunos.

Na época, década de 50, esta Instituição recebeu alunos das mais variadas cidades, inclusive de outros estados e isso favoreceu o desenvolvimento econômico e social do local que viria a se emancipar em 1959. Devido a mudanças na administração dos padres palotinos as atividades desta instituição foram encerradas, em torno de 1970.Com isso, os Palotinos venderam para a Prefeitura Municipal de Faxinal do Soturno o prédio do Pré-Seminário São José .

 Com o prédio sob a administração da Prefeitura, a mesma destinou um espaço para receber o acervo fotográfico do Irmão Ademar, incentivada pelo Pe. Valdir Bisognin, no final dos anos 90.  Assim, foi criado o Museu Fotográfico Irmão Ademar da Rocha, alocado dentro do espaço do antigo Seminário, em que reúne um acervo de aproximadamente 3.500 fotografias, que retratam a trajetória dos povos, especialmente dos imigrantes italianos e seus descendentes, que povoaram e construíram o município de Faxinal de Soturno. As fotografias registram vários acontecimentos e pessoas da comunidade desde a década de 1920 até o ano 2000.

O Museu é constituído a partir do rico e vasto acervo, de imensurável valor histórico e identitário, um legado deixado pelo Irmão Ademar da Rocha, que foi o pioneiro tanto na fotografia quanto no cinema na Quarta Colônia. Os guardiões deste acervo foram Amir Trevisan (Cacique) e Carmem Della Mea Marzari que gentilmente o doaram para a comunidade, oportunizando às novas gerações conhecer e entender a história de Faxinal do Soturno.

Outro espaço que faz parte do complexo, em frente ao museu, é o Santuário Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt que está localizado dentro do Bosque Municipal. Este lugar existe desde o início do Pré-Seminário São José, inclusive era muito usado pelos alunos na época para orações e preces. O Santuário e seu entorno, o bosque, foram preservados ao longo do tempo, bem como imagens da Mãe e Rainha Três Vezes Admirável Peregrina carregada por João Luiz Pozzobon.

A imigração italiana na Quarta Colônia

A Quarta Colônia de Imigração Italiana está localizada na região central do Estado do Rio Grande do Sul. Denominado inicialmente Núcleo Colonial de Santa Maria da Boca do Monte foi criado em 1877, nas terras pertencentes ao município de Santa Maria da Boca do Monte, sendo elevado à categoria de Colônia em 1878. Em 1879 passou a ser chamada de Colônia Silveira Martins em homenagem ao político liberal Gaspar Silveira Martins que possuía importante atuação na região e foi defensor do processo imigratório.

A colônia fora dividida em núcleos coloniais e, estes, divididos em lotes que seriam destinados aos imigrantes (que serão chamados de colonos). A Colônia Silveira Martins foi composta pelos seguintes núcleos: Núcleo Norte (Ivorá), Núcleo Dona Francisca e Núcleo Soturno (Nova Palma). Mais tarde, o contínuo afluxo de imigrantes, fez a colônia expandir-se pelas quebradas da serra, dando origem a novos núcleos para assentamento como Vale Vêneto, Ribeirão, Val Veronês, entre outros. O Núcleo Soturno foi subdividido dando origem a Barracão (atual município de Nova Palma) e Geringonça (atual Novo Treviso). Posteriormente, entre estes dois núcleos – Barracão e Geringonça, surgiu a sede do município de Faxinal do Soturno.

O resgate do reconhecimento e valorização da região como Quarta Colônia deu-se principalmente através do Pe. Luiz Sponchiado que atuou fortemente na mobilização política pela emancipação dos núcleos coloniais a partir do século XX, além de outras coisas, suas obras e escritos resinificaram o processo histórico regional, pontuando a ideia de pertencimento e identificação do povo com a suas origens. Outra personalidade que buscou divulgar a cultura ítalo-brasileira em Vale Vêneto foi o Pe. Clementino Marcuzzo, a partir da organização de festas típicas com enfoque na religiosidade católica e na italianidade.

Atualmente, a Quarta Colônia é composta por nove municípios: Silveira Martins, Agudo, Restinga Sêca, São João do Polêsine, Faxinal do Soturno, Nova Palma, Ivorá, Dona Francisca e Pinhal Grande. Todos esses muito influenciados pela cultura italiana, a qual está expressa nos costumes, hábitos, na culinária, nos monumentos históricos, nas igrejas, na arquitetura típica colonial (urbana e rural) e na religiosidade.